b.m.

Eu gosto muito de cuidar de animal. Meu esposo tinha um sítio e eu ficava 24 horas no sítio cuidando dos bicho.

O sítio, era do avô dele. O avô dele faleceu e deixou pra tia e pra mãe dele, mas quem cuidava mais do sítio era ele.

Eu fui criada pelo meu pai, mas eu morava com meu esposo. Aí ele foi preso e eu fui pra casa da minha mãe. Minha vida com ele era boa. Tinha momentos bons, tinha momentos ruins, como todo casal tem. Mas pra mim era boa, aquela vida. Tudo o que eu queria eu tinha, e era assim a vida.

A minha infância foi muito boa, a minha mãe falou que eu era muito rebelde, porque os outros falava, ah, os outros perguntava porque eu era bonita e xingava os outros, dava o dedo pros outros? A minha infância foi boa assim sem esses motivos, foi muito boa.

A relação com a minha família era muito boa, só que às vezes eu dava os meus “pitis”, eu era bem rebelde, e aí meu pai me batia. Porque às vezes eu não dava ouvido pra ele. “Ah, não faz isso”, ele me dizia, mas eu falava: “ah pai, mas tá certo, eu vou fazer isso sim”. Aí sempre quebrei a cara.

A minha vida era boa. Boa e ao mesmo tempo não era, porque eu não obedecia meus pais. Quando tinha festa assim, que eu era de festa, eu falava: “mãe eu posso ir?” Aí minha mãe falava: “ah não”. Aí eu falei: “tem certeza que eu não vou?” Aí ela dormia, eu me arrumava e fugia. Ficava uma semana fora, duas, um mês. Quando eu fugia eu ficava na casa das amiga. E minha mãe preocupada comigo, porque eu não atendia o telefone, eu não dizia nada, desligava o telefone. Depois eu apanhava e ficava de castigo. Minha vida era sempre assim. Teve um tempo pra cá que eu conheci o meu esposo numa cavalgada. Aí foi que minha vida foi mudando.

 

 

Se eu tivesse que voltar minha vida atrás, eu largava meu esposo, porque eu passei muitas coisas com ele que num devia deu passar. Eu tinha tudo ganho com a minha mãe e meu pai, mas isso foi escolha minha. Eu que tive que passar.

Meu esposo tem 19. Ele foi preso, o motivo é muito grave.

Não tenho saudade do meu esposo. No começo quando eu tava aqui eu tinha. Mas depois eu caí em si e falei: “ah, ele que fez isso tudo comigo. Se ele me amasse de verdade ele ia dizer que eu não tinha nada a ver com o crime”. A minha mãe disse que ele fica ligando perguntando por mim, eu falei: “mãe, não responde nada, não responde”.

Se que eu falasse que eu ia na minha mãe, o meu ex-marido me batia pra mim ir ver a minha mãe de olho roxo.

Já fui várias vezes pra casa da minha mãe de olho roxo. Minha mãe ficava em depressão por causa de mim. “Sai, larga esse garoto, esse garoto não presta para você.” E eu não dava ouvido pra minha mãe, entrava num ouvido e saia no outro. Quando ele me batia eu sentia raiva, aí eu ia pra casa da minha mãe. Aí no outro dia eu já tava na casa dele de novo. Minha mãe brigava comigo, me chamava de safada, que eu gostava de apanhar, que quando ela me batia eu tentava agredir ela, e com ele eu não sabia reagir.

A última vez que ele me bateu eu quase que morri, porque eu tenho asma. Ele me bateu e eu tava soltando baba branca pela boca. Se não fosse o meu pai pra chegar pra me buscar e a mãe dele ligar, eu já tava morta. Às vezes eu acho que Deus me botou aqui pra mim ver as coisas errada que eu tava fazendo, pra me pôr a cabeça no lugar.

Tem uma imagem triste do dia que eu fui presa.

Eu não fui presa totalmente, eu fui no Ministério Público dar meu depoimento, aí nisso que já me jogou pra juíza. Aí eu fiquei desde às 5 até às 8 da noite no fórum. Aí a mulher já me chamou e disse que eu ia ser presa. A minha mãe ficou doida, já ficou em depressão, já até deu para desmaiar. Essa é uma imagem que não sai da minha cabeça. Aí eu cheguei aqui dentro, eu tive depressão também, meu cabelo caiu muito, tá caindo até hoje. Eu não vejo a hora de sair deste lugar.

Eu tô aqui há dois meses, eu vou ficar seis meses.  Mas eu tenho fé em Deus que nesses seis meses eu vou sair, porque o meu advogado tá recorrendo. E eu sei que eu não fiz nada e Deus sabe, ele que tem que me julgar, não é a gente, não é ninguém. O único que pode me julgar é Deus, não é ninguém, nem a juíza, nem ninguém. Que é igual a técnica, me chama só pra falar que eu vou ficar aqui um ano, dois ano. Eu já falei pra ela não me chamar pra ficar falando essas coisa, por que me deixa mais com a cabeça lá no alto. Minha cabeça já tá a mil, fica mais a mil ainda.

Meu medo é deu perder a minha família. Perder minha sobrinha, minha irmã, minha mãe e meu pai. Só esses. E deu ficar aqui muito tempo e a minha família me abandonar. A minha mãe já falou que não importa o tempo que vou ficar aqui que ela não vai me abandonar. Aí eu fico mais tranquila. Ela fala: “filha, não pensa no negativo, pensa no positivo, que você vai sair daqui e tal”.

E eu creio que eu vou sair, porque eu sei que eu não fiz nada, minha mente é limpa, meu coração tá limpo.

Porque eu não fiz nada. E o advogado falou que ele só tá na minha causa porque eu não fiz nada, que se eu tivesse feito alguma coisa ele já teria me abandonado. Ele só tá na minha causa ainda porque ele sabe que eu sou inocente.

Agora eu não quero perder mais tempo não, agora eu não quero nunca mais sair da presença de Deus.

Que eu era fixa na presença de Deus. Eu não faltava um culto, cantava, dançava e o meu ex-marido fez eu parar com isso tudo. Que ele não deixava eu ir pra igreja. Eu só ia à igreja de vez em quando. Uma vez na vida e outra na morte. Com ele eu achava isso ruim pra mim. Porque eu tenho um chamado com Deus e ele fez esse chamado meu, quando eu tava com ele, ir de água abaixo. Mas agora eu já falei que nada vai me impedir, que eu vou vencer. Quando eu sair daqui, eu vou mostrar pros outros que eu não sou nada disso que eles falam.

O que eu quero ser no futuro?

Ah, eu queria voltar pra fazer meu curso de modelo e fazer uma faculdade pra ser veterinária, que eu adoro mexer com bicho.

Mas tem vezes que eu penso, acho que eu não consigo não. Quando meu ex-marido dava injeção no cavalo eu já ficava doida, enfiava agulha toda no pescoço assim e saia aquele sangue. O bichinho fechava o olho, aí eu ficava doida.

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