Ah, eu entrei pra essa vida porque... porque eu fazia merda com a minha família, aí eles me mandaram embora.
Aí eu entrei pra essa vida. E também porque eu não conheci meu pai, que ele morreu quando era pequeno. Aí eu entrei pra essa vida. Ah, que eu saía, chegava de madrugada, aí eles não gostava. Aí eu fui e entrei pra essa vida. Eu já trafiquei, agora só comecei a roubar, comecei a roubar. Aí fui preso duas vezes lá fora, mas fui solto. Essa agora fiquei preso, tô preso até agora.
Ah, eu ficava com medo quando eu roubava, mas também eu gostava.
A primeira vez que eu roubei, eu comecei e me acostumei. Aí todo dia eu ia roubar, todo dia. Eu roubava direto. Ia roubar direto eu e os moleque lá. A gente ia roubar todo dia.
A minha mãe, gostava dela pra caralho.
Ah, que eu aprontava muito com ela, tipo assim, ela pedia pra fazer as coisas, eu não fazia. Aí ela me batia também. Ela me mandava pra escola e às vezes eu falava que não ia pra escola, também. Às vezes ela não me deixava ir pra rua e eu ficava perturbando ela pra ir pra rua, ela passando mal. Às vezes ela não gostava de me bater não, ela mandava o meu padrasto me bater às vezes, tipo de chinelo.
Aí quando eu aprontava, fazia merda, eles me batia.
Minha mãe já sofreu muito também, meu pai cortava ela com gilete às vezes, batia nela pra caraca, ficava batendo nela. Ela sofreu muito também minha mãe.
São três menino e três menina, mas um faleceu, aí ficou dois menino que é eu e meu irmão e três meninas.
O que faleceu tinha 17 anos, ele tava na boca, nessa vida aí. Foi assim, eu tava em casa, não podia nem sair pra rua, aí ele saiu pra rua. Aí eu tava no portão assim ai e ele começou a me zoar, que eu não podia sair pra rua. Isso foi de domingo pra segunda, eu acho. Aí ele começou a me gastá, começou a me gastá. Aí ele foi. Eu acordei de madrugada assim, tipo quando ele ia pro baile assim, esse era dia de baile. Ele voltava cedo, não voltava de manhã não. Aí eu acordei de madrugada assim e não vi meu irmão, olhei pro lado assim e não vi meu irmão. Fiquei pensando "cadê meu irmão?" Aí eu botei a cara assim na janela, e tava escutando o baile, só que eu não podia nem sair pra rua. Pensei "ele deve tá no baile". Aí dormi de novo, acordei de manhã e meu irmão não tava na cama, não tava em casa. Aí eu fui pra rua, aí os moleque me parou e falou que ele tinha morrido, o meu irmão tinha morrido. Aí eu fui lá na minha tia, que meu outro irmão tava trabalhando, eu fui na minha tia e falei com ela, depois meu irmão chegou também. Aí meu meu tio foi lá naquele bagulho de corpo, de ver o corpo. Foi lá ver e era ele lá morto. Tava morto lá, era ele. Ele tomou um tiro, acho que foi no peito, não sei aonde.
Foi caixão fechado o dele, porque tava fedendo já. Ele tava fora da geladeira, sei lá.
Eu comecei a chorar quando me falaram. Da primeira vez eu não tava acreditando, o menor me falou e eu falei “para de caô” que não sei o quê. Aí quando eu tava vindo pra casa outro menor já me falou também. Eu já entrei em casa chorando, falei com a minha irmã mais nova, aí ela também começou a chorar “já foi minha mãe, agora foi meu irmão”.
O meu pai, os outro falava que ele era que nem eu, assim, tem essa voz, o cabelo, assim mesmo, o mesmo corpo, assim.
Os outro falou que ele morreu, que ele tava de bebida, bebia cachaça direto, ficava doidão aí, aí os outro falou que ele morreu assim, bebendo.
Várias pessoas me chamaram pra morar já.
Quando minha mãe era viva os outros me chamava pra morar, perguntando se eu queria morar com eles, até quando a minha mãe era viva. Minha mãe falou que quando a gente era menor de idade, eu e a minha irmã mais nova, todo mundo queria adotar a gente. Minha mãe falava que não ia dá a gente para ninguém. Minha mãe falava, falou pra mim e pra minha irmã mais nova.
Por que a gente era menor, aí os outros queriam adotar a gente. A minha mãe dava pros outros não.
Aí na rua, às vezes, eu andava, os outros me chamava. Aí um dia veio um cara lá “pô, tem uma mulher te chamando”. E eu: "que mulher?", "mora ali". Aí eu fui na mulher, ela perguntou se eu queria morar com ela, falou um bagulho. Mas eu tava morando com a minha irmã nesses dias. Eu morando com a minha irmã e perguntando se eu queria morar com ela, que não sei o que. Aí eu fui e comecei a morar com ela, fiquei morando com ela mó tempão.
Aprendi minha lição, né? no castigo, é um castigo.
Eu queria voltar a falar com a minha família. Aí eu vou voltar a estudar, eu vou trabalhar. Se eu tivesse lá fora eu acho que eu taria morto. Eu taria que nem eu tô agora, preso. Que eu roubava muito. Eu roubava pros cara, os cara lá no morro me chamava. Esses cara aí agora morreu, só um que tá vivo agora. Os menor que roubava, aí no gogó, dois morreu, um que tá vivo rodou. Um até agora não acharam o corpo.
Quando a minha mãe era viva, eu falava que eu nunca ia entrar pra essa vida não, eu falava.
Quando eu comecei a morar aqui e comecei a conhecer vários menor que não fumava, até hoje eles não fuma. Não fuma, não bebe. E às vezes fico pensando e até me arrependi de parar de falar com eles. E fico andando com esses moleque aí, que é dessa vida. Às vezes eu fico falando pra mim mesmo, até me arrependi de parar de falar, de parar de andar com eles, pra andar com os moleque aí que fuma.
Eu me arrependi, eu acho que me arrependi.
Eu soltava pipa, jogava bola, ficava jogando videogame às vezes, ficava jogando bola de gude. Eles nem fuma até hoje, não fuma, eles estuda, trabalha. Aí eu me arrependi de ter parado de andar com eles, pra andar com esses mané que fuma aí.
Eu tenho uma garota que eu gosto, até hoje.
Eu comecei a namorar com ela. Que ela que veio, aí eu comecei a ficar com ela, a primeira menina que eu namorei, antes eu só pegava só. A gente mora na mesma avenida, aí comecei a namorar, ficar com ela, começamo a namorar. Aí às vezes ela já comprou roupa para mim de natal, vários bagulho. Aí eu já levei ela no Habib's também.
Ela falava também que ela também gostava de mim, que me amava também.
A mãe dela me chamou pra morar com ela e tudo. Ah, quando a gente andava assim na rua de mão dada, quando às vezes a gente dormia junto eu e ela. Eu ia lavar a louça, aí ela me ajudava também, me ajudava. Ela falou que ia me botá na escola também, eu nem estudava ainda. Eu gosto dela pra caraca, até hoje. Ela já tá com outro já, eu acho. Eu não consegui esquecer ela não.
Eu tava falando pros menor isso, o presente que eu quero que deus me dá, é ela de volta.
Eu fui falar pra ela que eu peguei uma garota, que eu já peguei garota assim, mas não morava com ela ainda não. Ai ela ficava me batendo toda hora. Ela mandava falar, eu falava. Mas é muito bonita ela. Se eu arranjar outra namorada, só se eu arranjar uma namorada que eu vou consegui esquecer ela.
Eu tenho medo de perde a minha irmã mais nova, ela tá morando não sei com quem aí, um menor aí.
A minha irmã mais nova, que tenho maior ciúmes dela também, quando eu sair eu vou atrás dela. Aí ela vai estudar junto comigo. Ah, a gente ficava brincando quando a gente era menor, mais novo. Eu ficava brincando, levava ela na escola, direto. Aonde que eu ia, ela ia comigo também. Sei lá mano, não gosto que ela namora com ninguém não.
Eu sou moreno. Meu cabelo é... como se fala? é baixo, baixo, sei lá.
A minha sobrancelha também é preta, é grande. O meu olho também é... o quê? preto né? Preto. Meu bigode é fino, preto também. Ah, eu tenho uma tatuagem no braço esquerdo escrito o nome da minha mãe. Meu olho é um pouquinho grande, meu nariz também. Meu nariz não é pequeno não, é grande mesmo. Eu tenho manchas também.
Quando eu tinha catapora eu fiquei com as mancha aqui.
Aqui no rosto também, no braço esquerdo e direito, também na perna, na barriga, nas costa também tenho, só um pouco. E também esse machucado aqui quando cai de moto. Eu atravessei assim, voadão e quando eu olhei assim, tinha uma casa, aí se eu não freio, eu ia bater na casa. Aí a moto derrapou e eu caí junto. Aí fui, cadê? essa aqui também, foi isso.
Eu também tenho outro machucado aqui, por aqui.
Quando eu pegava caminhão assim, subia em cima do caminhão pra pegar carona. O dono me viu, aí ele acelerou, quando ele acelerou eu pulei e já fui arrastando assim. Arranhou isso aqui tudo aqui ó. Eu tenho uma marca por aqui ó, essa aqui ó. Aí ele me viu, quando ele me viu já pulei, aí fui ralando assim, nos ombro assim.
Tava eu e o menor na pracinha brincando, aí nós viu o caminhão, aí fomo correndo, subindo atrás do caminhão, ficamo atrás do caminhão mó tempão assim. Nesse dia ele já ia para pista, aí eu falei “ele já vai para pista, bora pular mané, ele vai para a pista”. Aí quando nós falou, ele já viu já, tinha visto a gente. Aí os mané pulou e só ficou eu. Ele tinha me visto, aí eu falei, eu fui e pulei.
Quando eu pulei já fui arrastando. Fui me arrastando assim no chão.
Aí meu ombro, foi só se arrastando assim. Tipo, sei lá mano, tipo escorrega, eu fui escorregando assim no chão, se arrastando. Só que ficou tudo em carne viva. Aí eu fui lá, a minha mãe já me ajudou, me levou em casa. Aí foi meu padrasto, não foi nem minha mãe, já me deu um banho. Tava ardendo isso aqui tudo aqui. Não conseguia ficar de pé. Aí já fui para casa. Também depois fiquei lá no portão lá sentado, tudo ardendo aqui assim ó.