Eu entrei na vida do crime por causa do meu tio que era do crime, eu vi ele morrer na minha frente, isso me revoltou, aí eu fui e entrei pra boca.
Meu pai morreu quando eu tinha 2 anos. Meu pai morreu quando eu tinha 2 anos e eu fui criado pela minha mãe. Eu tenho 18 anos. Quem quem me cria é minha mãe. Eu tenho seis irmão, três é de outro cara e três é do mesmo pai.
Eu estudava, fazia curso, ganhava tudo da minha mãe, o que ela podia ela me dava tudo. Ela me dava videogame, me dava computador. Tudo que eu pedia a ela. Minha vó também, meus parente. Viajava pra São Paulo, eu e meu irmão. Pra onde a gente podia, quisesse ir, ela falava com a minha tia. Eu pedia a minha mãe, minha mãe me dava, comprava passagem pra ir pra Barra do Piraí, pra São Paulo, Cabo Frio. Eu ia pra todos esses lugar, aí eu ia pra longe e voltava.
Depois que meu tio morreu foi aquilo, minha mãe ficou no desespero por causa do meu tio, pensando que ia acontecer a mesma coisa comigo. Aí tinha medo que acontecesse de eu ser baleado, ser morto, aí ela me dava vários conselho, conselho de mãe. Começava a chorar quando eu voltava armado. Eu dormia armado e ela ficava só assustada dentro de casa. Às vezes que eu nem dormia em casa, dormia na casa dos colega da boca. Dormia em outro lugar.
Tipo, agora eu não estava na boca não, eu tava cumprindo a minha LA certinho, eu ia alugar uma casa pra eu e a minha namorada morar junto, só que eu fui preso.
Quando eu saí, eu vou querer, eu vou pedir pra minha mãe pra comprar uma passagem pra mim pra ir pra São Paulo, pra ficar com meu irmão. Já tô maior tempão longe do meu irmão. Aí eu quero ir pra São Paulo ficar com meu irmão, estudar lá. Fazer curso, porque lá eu tenho meu quarto lá. Porque a minha prima mora no apartamento e o marido dela era pastor e o meu irmão é obreiro agora. Aí eu vou ficar lá com meu irmão lá, ele era da boca só que agora ele virou obreiro, meu irmão. Aí eu vou ficar lá com ele.
Eu gostava de de brincar, jogar bola, soltar pipa. E o que eu não gostava era arrumar a casa, por que isso só quem fazia era o meu irmão mais velho mesmo e a minha mãe.
Minha relação com a minha mãe era de carinho mesmo. Eu vi minha irmã nascendo, nasceu no meu colo, eu peguei ela no colo quando ela nasceu. Minha família não tá vindo me visitar por causa do meu irmão, que tem três anos, acho que tem dois aninho agora, é de colo e aí ela não tem como ficar, aí quando ela fica longe ele começa a chorar. É muito apegado a minha mãe, ela só vem me visitar no sábado, quando o meu padrasto fica com ele, quando o pai dele fica com ele.
Do que eu tenho medo? O que eu tenho medo é de morrer.
O que eu tenho medo também é de eu perder a minha mãe, meus irmão, alguém da minha família.
A primeira vez que eu me apaixonei foi a N., que veio da Bahia. Eu conheci ela, gostei dela, vi que ela era uma garota igual a eu. Eu gosto de garota como, educada, pá, decente, igual a ela.
Aí eu vi que ela era garota que era pra mim, que era pra mim ficar, namorar. Só que depois eu fui e comecei a namorar com ela, fui no aniversário do irmão dela, dei presente de aniversário pro irmão dela, uma bola. Aí depois que eu fui preso, eu saí, ela não tava mais morando lá, tinha voltado para Bahia. Aí eu conheci a C. Ela já era da época de escola, que a gente já namorava também. Aí eu voltei a ficar com ela, namorava também, aí eu fui parei. Depois por acaso eu conheci a mãe dela, e nós começamo a namorar, e aí eu descobri que era mãe, só depois. A mãe dela tinha 33 anos e ela tinha 17 anos.
O que eu gosto de mim é que eu sou tranquilo, que eu respeito as pessoas, mas tipo assim, essas pessoas do tráfico nem merece respeito.
Que isso daí, quando entra no alojamento eu nem trato eles com respeito. Eles brinca da mesma forma comigo como, quando não me respeita eu falo baixo com eles, eles fala alto, aí tem que falar mais alto do que eles, eu não gosto disso. Eu gosto de falar baixo, eu sou tranquilo, sou pessoa tranquila.
Eu tenho problema de nervo, sou muito tranquilo igual ao meu pai, que a minha mãe fala. Eu fico dando soco na parede, fico igual um maluco. É nervoso, isso acontece quando eu fico nervoso. Fico nervoso, eu fico de cabeça quente, fico como, nervoso. Aí eu começo a ficar com a mão tremendo, tipo, querendo bater em alguém, querendo agredir. Eu falei isso até para minha mãe na visita. Eu não tinha isso na pista não, começou quando? começou lá no Padre, que eu briguei com o menor lá, por causa que na visita ele ficou olhando pra minha mãe. Aí ele ficou falando merda da minha coroa. Por causa que aqui cada um respeita a família, aí ele vai falar da minha família? Eu não falo nem da família dos outro, pra ele vir falar da minha. Aí eu fui e briguei com ele. Eu bati nele, e ele bateu em mim. Aí a doutora passou remédio controlado. Aí eu tomo esses remédio até hoje. Já tem uns nove meses tomando isso. A diferença é que eu fico mais tranquilo ainda do que eu já sou.
Em 2013, eu tomava aqui remédio por causa desse negócio do meu tio, eu não conseguia dormir nem em casa não. Conseguia dormir não, por causa daquela cena do meu tio, eu vendo meu tio baleado, sangrando para caramba, desespero.
Uma coisa que eu me arrependo é ter entrado pro tráfico, ficar correndo de polícia, tomar uma bala perdida. Tenho vários machucados de correr de polícia, só isso.
Mas também me arrependo de ter entrado pra igreja e saído. Por causa que eu entrei pra igreja, saí, voltei pra boca, voltei pra igreja, saí de novo.
Eu não sabia pra qual escolhia. Fiquei tipo assim, não sei se eu entrava pra boca ou se ficava na igreja, a única coisa que me arrependo é isso também.
O que eu gostaria era ter um filho, ter minha família. Não quero mais esse negócio de tráfico perto da onde eu estiver morando.
Uma coisa boa que aconteceu na minha vida foi conhecer a minha irmã mais velha.
Eu tava saindo com a minha mãe, aí a minha mãe falou assim "aquela ali é tua irmã". Eu falei "não é nada, não é sua filha". Aí ela "é filha do teu pai". Aí eu conheci ela e o que me deixou marcado foi isso, conhecer que eu tenho outra irmã. Já chorei pra caramba cara, igual neném quando chora. Antes de eu entrar na casa dela, eu abracei ela, fiquei abraçado mó tempão. Minha mãe "que isso!" Falei "que isso? fiquei mó tempão nem sabia que ela era minha irmã. Passava perto dela, ela passou perto de mim sem saber que era irmão dela. Agora que tu vai me contar?" Aí eu fiquei feliz. Ela morava ali praticamente na rua, perto da casa da minha prima. Passava lá, via ela na rua com os filho dela brincando.
A minha família é normal.
Uma vez eu e meu irmão fomo pro baile funk escondido da minha mãe, pulamo a janela e fomo pro baile funk, voltamo tarde. Aí ela foi e descobriu, nós apanhamo muito. Que a minha mãe não deixava a gente sair, eu só tinha 11. Meu irmão tinha o quê? 9 anos, 10 anos, por aí. A gente não podia, aí ela foi e bateu na gente. A gente fingiu que tava dormindo, esperou a minha mãe dormir, pulou a janela e a gente foi caminhando, já tinha um monte de garota indo pra lá. Aí a gente foi e pegou umas garota e fomo junto com as garota pra lá. Baile da feira. Aí depois nós saimo, voltamo umas 3 da manhã, 4 da manhã, na hora que o meu padrasto saía pra trabalhar. Aí a gente esperou, viu ele saindo pra trabalhar, depois a gente pulamo o muro e pulamo a janela. Aí ela foi e pegou a gente na hora que a gente pulou a janela no quarto.
Lá no baile, não sabia o que fazer ai comecei a dançar também, que nem sabia dançar, comecei a dançar, bebendo energético. É igual ao meu pai. O meu pai, falava a minha vó, que ele não podia nem beber energético que ele ficava elétrico, começava a dançar, nem sabia dançar também, começava a dançar, dava uma de doido.